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Catarina Sobral chega ao seu terceiro título pela Carochinha, desta vez com o poético ‘O chapeleiro e o vento’

SOBRE O QUE VAMOS CONVERSAR:

Queridos leitores e leitoras, abram as janelas e deixem a brisa entrar para trazer novidades direto do jardim do Reino da Carochinha. Bem, se estiver um pouquinho frio, deixem para lá e acompanhem as novidades conosco enrolados no cobertor que está tudo certo. Fiquem à vontade e ligados para curtir o papo com a autora e ilustradora Catarina Sobral.

Catarina chega ao seu terceiro título pela editora, desta vez com o poético O chapeleiro e o vento. Nesta entrevista, ela nos revela curiosidades a respeito da obra.

Por Marcelo Jucá

Em O chapeleiro e o vento, apesar dos chapéus e apesar do vento, suspeitamos que a história traz algo mais. O que pode nos revelar?

O livro tem, para mim, diferentes possibilidades de leitura. Pode ser a história de uma amizade inesperada. Ou um repto [uma provocação] para descobrirmos o mundo por outra lente (uma que espreite por debaixo da aparência das coisas): o vento leva os chapéus porque não gosta deles? Ou porque gosta muito? Será que só quer brincar?

Você é autora e ilustradora aqui. Como foi o processo de criação? O texto surgiu primeiro? Uma ilustração? Conte para nós sobre essa combinação e o processo de criação.

Sim, o texto surgiu primeiro. Eu gosto de escrever histórias com um final surpreendente, que desvie a expectativa do/a leitor/a uns milímetros. Quando chegamos ao final, entendemos a história de outra forma. Se voltarmos ao início, vamos perceber que, afinal, o desenlace sempre podia ter sido aquele. Esta história, com outras personagens, era a mesma: a neve e o sol, a sombra e a luz…

Depois de definir a ideia e o desfecho, escrevo o texto, já a pensar nas ilustrações: neste livro, as duas penúltimas duplas páginas são silenciosas. Quem nos conta o que está a acontecer é o narrador visual. Sem a relação entre o texto, os silêncios e a imagem, a história não existiria.

Depois, desenho esboços das personagens, faço um storyboard, testo a técnica que quero utilizar. Por fim, depois de ter tudo decidido e ter esboçado todas as páginas, faço as artes-finais.

O chapéu é um acessório presente na cultura pop mundial, de Chapeleiro Maluco a Carlitos. Como o acessório entrou na sua cabeça para virar personagem de livro?

Eu sempre gostei de desenhar personagens com chapéus e, quando me encomendaram o livro, decidi escrever uma história a partir de um objeto que gostasse de desenhar.

Como seria um Chapéu Catarina?

Igual ao do Chapeleiro.

Suas obras são convites a muitas reflexões. Em uma sociedade ultraconectada, como enxerga o papel do livro e de histórias que provocam os leitores a tomar um tempo para respirar, refletir e respirar mais um pouquinho?

Desta forma: como um convite para fugir ao ritmo do dia a dia e para refletir sobre o mundo. Os livros transformam, podem transformar o tempo ou as ideias.

Qual é a verdade, ou o caminho, do poético com as infâncias? Entre mudanças muito rápidas, muita informação, muita concorrência, como chegar e despertar a sensibilidade das crianças?

Eu costumo dizer que tenho três pilares na minha forma de escrever e pensar os conteúdos para a infância: universalidade, permeabilidade e afetividade. Assim, desenhar e escrever para crianças, independentemente da forma (livro, teatro, cinema…), é um processo de síntese: de eliminação do acessório, de redução ao essencial. Tento sempre respeitar o/a leitor/a e não o/a infantilizar. Desafiá-lo/a a descobrir por si mesmo/a. E também criar um objeto artístico permeável, não prescritivo, que nasça, geralmente, das emoções. Histórias que ofereçam à criança a liberdade de criar, interpretar, de preencher os vazios com as suas experiências e sentimentos.

Na cabeça, ou coração, ou orelha da Catarina, o que nasce primeiro: a palavra ou a imagem? Há uma greve de ideias ou pode ser tudo muito grave e acontecer tudo ao mesmo tempo?

As ideias são uma mistura das duas coisas, palavras e imagens. Às vezes, fazem greve, sim, mas normalmente encontro-as num papel em branco.

Hora de revelar segredos! Tem alguma mania na hora de escrever seus livros?

Vou buscar outros livros que me podem inspirar. E roubo um bocadinho de cada um.

Complete: se um vento levar seu chapéu, você vai dizer…

Quem me mandou escrever este livro!

Se um chapeleiro levar seu chapéu, você vai dizer…

Apanha, ladrão!

O vento é um elemento inquieto por natureza. Até gosta de fazer voar chapéus por aí. Mas, na história, é um pouco diferente. O que é, ou quem é o vento para você? Qual é a sua poesia?

É uma personagem, irrequieta sem dúvida. Talvez traquinas…?

Para as professoras e professores que acompanham nosso blog, como pensa que eles podem levar o livro até as crianças?

Uma leitura participativa é sempre boa ideia. E oficinas de desenho, ou de escrita. Nesse caso, também pode ser giro [interessante] construir chapéus tridimensionais com as crianças, por exemplo, com origami.

Uma dica para as crianças: como escolher o próprio chapéu?

Medir a cabeça, ver a previsão meteorológica, pensar na cor preferida… E, independentemente disso, escolher o mais divertido.

Com quantos chapéus se faz uma história?

Entre 0 e 89571983475689832430984,195784319. Nunca mais do que isso.

Como lidar com os vazios modernos e rechear as infâncias com ternura e esperança?

Posso recomendar um livro? Assim, de cabeça, talvez O chapeleiro e o vento.

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