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O segundo idioma para brincar, imaginar e voar

SOBRE O QUE VAMOS CONVERSAR: os efeitos positivos de estimular um segundo idioma na primeira infância; mito e realidade da aprendizagem; imersão e ludicidade; livros e demais ferramentas educacionais e de lazer.

por Marcelo Jucá


Você já viu esse meme? Um sapo verde, minúsculo, e por isso fofo, “mordendo” o dedo de uma pessoa. “Mordendo” vai entre aspas porque o bichinho nem tem abertura de boca suficiente para tanto, e dá para ver que o anfíbio nem faz muita ideia do que está na frente dele. A principal graça, contudo, é a música que acompanha a edição:

It’s me, hi, i am always hungry!!

repost: @soi_grn_san

O vídeo tem apenas cinco segundos, mas pode ser o suficiente para atiçar a curiosidade de uma criança e conduzi-la na apresentação de outro idioma.

Aprender outro idioma na infância

Anos atrás, ainda havia por parte das famílias muita desconfiança com o ensino de um segundo idioma na fase de alfabetização. Atualmente, o cenário é diferente. A desconfiança deu lugar a dúvidas pontuais, e sempre importantes de serem esclarecidas. Ao mesmo tempo, percebe-se o maior interesse e incentivo por parte das famílias.

De acordo com Denise Tonello, orientadora pedagógica do Fundamental I do Colégio Miguel de Cervantes, o maior receio que aparece é de que a criança perca ou não desenvolva a parte escrita no português. Algo, como ela mesma explica, não acontece.

“As situações que temos acompanhado mostram que os mitos não se comprovam. As crianças têm uma elasticidade de pensamento impressionante.”

Denise, que também atua como formadora de professores, completa: “A gente toma os cuidados. O ensino da prática escrita acontece em outro momento, somente após a criança se apropriar  da língua materna”.

Mito X realidade

O que explica a mudança de comportamento por parte da sociedade é o acesso à informação correta. Ou seja, profissionais e pesquisadores explicando o que é realidade e o que é mito no processo.

Juliana Sanches Pinto pesquisou a aquisição da segunda língua na primeira infância. Em seu trabalho, a pedagoga destaca ser natural o processo de aquisição de línguas em crianças pequenas.

“O ser humano nasce com a capacidade inata para adquirir a linguagem oral e, inconscientemente, ele consegue internalizá-la para se comunicar com outros indivíduos.” 

A aquisição de uma segunda língua, também compreende a familiarização de novos sons, estruturas do idioma e aproximação de outra cultura.

Reparou? Falei bastante do “adquirir”. É porque é isso mesmo. É diferente de “aprender”. É tomar para si e internalizar, algo mais natural e que fica para sempre com você, que nem andar de bicicleta.

Agora, outro mito: significa que aprender um pouco mais jovem ou adulto não vai aprender direito? Claro que não. Cada fase da vida vai apresentar pontos positivos e negativos. No caso de adultos, por exemplo, o benefício é a maior atenção, bagagem de vida que auxilia nas associações, e por aí vai.

O que estamos trazendo no artigo são os benefícios de um segundo idioma na infância. Entendendo e respeitando que existem muitas realidades, e cada família e educadores vão se esforçar para dar conta de todas elas. E, no caso, a cultura, a ludicidade e a tecnologia podem ser os grandes diferenciais nessa jornada. 

Cotidiano mundial

A psicóloga Elizabete Flory avaliou as influências do bilinguismo no desenvolvimento infantil. Em sua tese, cita a importante pesquisa de Lin Wei, em que “afirma que pessoas que crescem em uma sociedade na qual o monolinguismo e a uniculturalidade são promovidos como modo normal de viver, frequentemente pensam que o bilinguismo existem somente para poucas pessoas”.

Uau, certo? Você já tinha parado para pensar nisso? Agora preste atenção a esta segunda parte:

“Na verdade, um terço das pessoas do mundo utilizam mais de uma língua para se comunicar e que, se computarmos como bilíngues também as pessoas que aprendem uma língua estrangeira na escola e só a utilizam para propósitos específicos, então o número de monolíngues seria muito menor do que o de bilíngues.”

Pois bem. Os medos citados não precisam assustar mais nenhuma família, já que as pesquisas indicam exatamente o oposto.

Let´s go, baby!

Chegamos até aqui e creio que estamos combinados que aprender um segundo idioma na infância é um processo valioso. Traz benefícios como repertório cultural e maior desenvolvimento de concentração e raciocínio, certo?  Para tirar qualquer restinho de dúvida, olha o que a Juliana escreveu:

“O fato de aprender as duas línguas ao mesmo tempo não atrapalha o desenvolvimento cognitivo da criança, pelo contrário, auxilia esse processo que se fará de forma mais lenta. (…) a criança bilíngue terá habilidade de comunicação na língua materna e na segunda língua, além de ter um vocabulário extenso devido às linguagens, enquanto que a monolíngue terá a habilidade e o vocábulo de apenas um idioma.”

Pois bem. Tudo isso é muito legal, mas como colocar em prática no dia a dia da criança?

Antes de seguirmos, vale a lembrança: o Brasil é um país grande em extensão, com realidades sociais plurais e diversidade de povos, culturas e origens. Com isso, portanto, devemos entender que não há uma fórmula certa, um único plano, uma linha reta. Ok, chega de metáforas. E a ideia do artigo é conversar com você, leitor, refletir junto e trazer cada vez mais possibilidades.

Ah, e você perguntou qual idioma como segunda língua? Inglês, indígena, espanhol, coreano, alemão, francês, japonês. O que tiver mais sentido para sua família, seu entorno. Todos  vão traduzir os efeitos positivos que comentamos até aqui. Após essa pausa filosófica, voltemos ao tema, a pensar nas práticas de um segundo idioma no cotidiano das crianças.

Práticas na escola

Para o aprendizado de línguas durante a primeira infância, destaca Juliana, é importante que a escola utilize um método que haja espontaneidade no ensino. 

“Assim, os alunos se sentirão à vontade para experimentar a comunicação nessa nova instância. O ensino lúdico é um dos principais fatores para que se tenha compreensão do segundo idioma de forma prazerosa.”

Denise Tonello segue a mesma linha de raciocínio, ao afirmar que a ludicidade faz total diferença para a aprendizagem da criança. “É muito diferente do que só ficar sentado na sala. O lúdico é parte fundamental do processo, seja por jogos de faz de conta, trava-línguas ou músicas.” 

De uma forma geral, a aquisição da segunda língua é natural em ambiente bilíngue. O procedimento é similar ao da língua materna, a depender do tempo de contato da criança com aquela. 

Os detalhes de conversas, como perguntar o nome, falar sobre uma roupa e contar uma história, são fundamentais no desenvolvimento e apropriação do idioma.

Livros e leituras

É claro que vamos falar de livros! É sempre bom falar de livros, afinal de contas. 

Denise concorda e destaca um lugar muito especial dos livros no desenvolvimento do segundo idioma. Para a educadora, as histórias trazem diferentes situações, culturas e significados. 

“Gostamos de apresentar poesias, rimas, são muito essenciais. Apresentamos desde Chapeuzinho vermelho até contos tradicionais espanhóis, além de versões em diversos formatos de Dom Quixote.”  

Em casa

A parceria escola e família é antiga, mas sempre vale lembrá-la e reforçá-la. Dentro do que estamos conversando aqui, de forma alguma estamos sugerindo que sua casa vire um espaço de “aula particular.” Mas sim de repensar alguns momentos em família e utilizá-los como oportunidades para brincar com o segundo idioma. Sim, brincar é o segredo, como já destacaram as entrevistadas. Além das leituras, já comentadas, que tal outras opções?

Músicas, jogos, curtas de animação na internet também acabam sendo uma ótima pedida cultural para promover o segundo idioma.  “A gente sabe que a criança gosta de assistir muitas vezes, repete, o mesmo desenho muitas vezes. Ela já sabe a história. Pode ser uma oportunidade para de vez em quando colocar no outro idioma, ou se for o caso a legenda mesmo”, sugere Denise.

A exposição, com supervisão e direcionada, a outro idioma, com o recurso visual e sonoro sempre auxiliam, trabalham juntos no aprendizado da criança. Tudo é equilíbrio. 

E os momentos do dia a dia? Com certeza. Também podem se tornar estimuladores. Como a hora de escolher a roupa, nomeando a peça, a cor da da peça, imaginar e fantasiar outras vestimentas.  A brincadeira pode ser estendida para o café da manhã, nomeando os itens que estão ali e alguns outros que poderiam estar 😉

O caminho para a escola, a volta da escola, o passeio no parque… Cada família vai encontrar o seu tempo e ritmo. Sem se cobrar e, principalmente, sem pressionar a criança.  Afinal, é um processo em que todos estão aprendendo juntos.

Múltiplas aquisições

Para terminar, por enquanto, esse papo, voltemos ao meme do sapo fofo (estou em looping, assisto pelo menos duas vezes ao dia), lá do começo do artigo. 

It’s me, hi, i am always hungry!! Um ótimo exemplo. Divertido, rápido e eficiente.  

Use esse meme (e você pode procurar outros semelhantes) como base. Utilize a tecnologia ao seu favor. Gosta de tirar fotos no celular? Pois tire, e com a criança vocês podem ver as fotos e nomear o que aparece na imagem no outro idioma, contar sobre o seu dia e assim por diante.   

O mundo atual é hiperconectado e isso, apesar de assustar um pouco e também ter seus malefícios, quando utilizado corretamente, com precaução e cuidado, tende a trazer muitos benefícios.


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