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Entrevista com Lázaro Ramos

Conversamos com o ator e escritor Lázaro Ramos sobre o seu projeto, Sinto o que sinto e a incrível história de Asta e Jaser, em parceria com Mundo Bita e a Carochinha, e que conta com ilustrações da estreante Ana Maria Sena.

Confira a entrevista e saiba mais sobre essa obra que une diversão, ludicidade e conteúdo de qualidade.

Carochinha: Como surgiu o convite para escrever o livro? Você já conhecia o trabalho do Mundo Bita?

Lázaro Ramos: Conheci o João e o Chaps, que são do Mundo Bita, numa feira chamada Rio Content Market. Meus filhos já conheciam os desenhos do Mundo Bita, então acabamos trocando algumas palavras, até que um dia eles marcaram uma reunião comigo e me chamaram para escrever um livro sobre o personagem chamado Dan. Fizeram a proposta de que eu criasse uma história sem nenhuma predeterminação, e eu aceitei por entender que é um projeto que tem similaridades com os meus desejos como artista também.

C.: O que o levou à escolha do tema “sentimentos” para um livro infantil?

L.R.: Sempre quis escrever um livro para crianças sobre sentimentos. Na verdade, o desejo de falar sobre sentimentos já estava em mim e acabei colocando à disposição do personagem Dan. É uma coisa que me intriga muito essa sinceridade das crianças com suas emoções e, ao mesmo tempo, a busca delas para entender o que estão sentindo. Tem alguns livros, inclusive, que falam sobre esse assunto e que eu vejo com muito carinho porque auxiliam até nós, pais, a conversarmos com os nossos filhos sobre as sensações que eles estão tendo.

Sinto o que sinto dá um passo adiante, porque traz, além dos sentimentos, uma segunda história sobre um povo africano que habita as margens do Rio Omo, na Etiópia. Esse povo tem uma maneira linda de se paramentar que eu acho que, para o mundo infantil, é uma grande fonte de inspiração para qualquer ilustrador, sempre uma parte muito importante dos livros para crianças. E a história ganha potência quando se tem um diálogo de qualidade entre autor e ilustrador.

C.: E como se deu a inclusão do povo do Vale do Rio Omo na história?

L.R.: Eu acredito que o Rio Omo e o seu povo são trazem a criatividade e a ludicidade na sua existência. E, ao juntar o tema “sentimentos” com o povo do Rio Omo, deu pra falar também sobre ancestralidade, saudade, memórias, que remetem a sentimentos que não constam com tanta frequência nos livros infantis, mas que fazem a diferença na construção da nossa identidade.

C.: Esse é o seu terceiro livro infantil, você tem uma coluna na Revista Crescer e também já fez palestras para jovens em colégios. O que te atrai tanto no universo das crianças e dos jovens?

L.R.: Até hoje não consigo responder o que me atrai no mundo dos jovens e das crianças. É a primeira vez que escrevo por encomenda, que é esse projeto do Mundo Bita em parceria com a Carochinha. Mas, no geral, eu escrevo para falar sobre assuntos que estão me mobilizando e que eu acho importantes. Hoje em dia, falar com crianças e adolescentes, para mim, significa fugir também de uma angústia do mundo adulto, que tem dificuldade para conseguir dialogar. E falar para as crianças sobre os temas que eu falo é plantar uma semente para um futuro de mais diálogo, mais afeto e mais conhecimento dos nossos valores e da nossa história.

C.: Você era uma criança tímida ou mais extrovertida? Lembra de ter dificuldades em lidar com os seus sentimentos em algum momento da sua infância?

L.R.: Eu era uma criança tímida, muito criativa, com a cabeça cheia de ideias e percepções, mas com dificuldade para compartilhar tudo isso com o mundo. O que me ajudou a fugir da timidez foi justamente o teatro. Através dos personagens eu ia conseguindo falar sobre os meus sentimentos.

Vejo que é importante falar com as crianças sobre isso para elas criarem os seus repertórios e não ficarem muito tempo sem se comunicar com o mundo. Apesar de que, às vezes, o isolamento criativo também é importante para a gente se perceber. O livro fala bastante sobre isso, sobre a comunicação do sentimento para o mundo, e sobre como comunicar para a gente mesmo aquilo que a gente está sentindo e saber lidar com isso tudo.

C.: Como é a sua relação com a literatura? É um hábito que tem desde pequeno ou adquiriu mais tarde?

L.R.: O gosto pela leitura para mim, por prazer, surgiu na minha adolescência. Durante muito tempo li pouco, lia mais livros que eram para fazer algumas atividades escolares ou livros indicados por professores. Quando comecei a fazer teatro eu descobri a leitura por prazer. Quando comecei a ler livros que me ensinavam mais sobre a profissão que eu tinha escolhido, o prazer da leitura entrou na minha vida para sempre. Tanto é que, hoje em dia, [os livros] são um dos meus assuntos preferidos, o presente que mais gosto de dar e receber. Dentro da minha casa também: Taís é uma grande leitora e as crianças também já têm o hábito da leitura desde cedo. É uma companhia em todos os momentos: dentro de casa, nas viagens e nos intervalos dos trabalhos.

C.: Como você vê a importância da leitura, principalmente para crianças e jovens, no país em que vivemos?

L.R.: Eu tenho um projeto de incentivo à leitura, em Salvador, chamado “Ler é Poder”. Acho que essa frase é bem sintética sobre isso. Ler, seja lá qual for o objetivo, seja por prazer ou para adquirir conhecimento, só traz benefícios. O difícil hoje em dia é você conseguir, inclusive, incentivar a leitura.

Tem uma história que acho muito curiosa de uma mãe que me perguntou: “Meu filho não gosta de ler, o que eu faço para ele ler?”. E eu respondi: “Leia! Vendo seu prazer com a leitura, ele vai ler também”. E é transformador. A cada livro em que você se encontra, que você descobre novas coisas, você já vira uma outra pessoa.

C.: O que os pais e as crianças podem esperar dessa história?

L.R.: É uma história em que quero que eles [os pequenos] viajem. Acho que eles podem encontrar uma viagem criativa. A história traz mais informações desse personagem [Dan], que algumas das crianças já conhecem através das músicas, mas que agora a gente está falando de uma rotina do seu dia a dia e da sua ancestralidade. Espero que [através da leitura do livro] eles criem também; que percebam a criatividade do povo do rio Omo e também se sintam estimulados a criar e a entender o que estão sentindo para se relacionar melhor com as comunidades em que vivem, sejam elas comunidades escolares, familiares, e até mesmo com os vizinhos.

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